E lá na Cascina dei Finocchio Verde…

Como prometido volto para falar um pouco de como foi minha vida durante os dias que estive em Murazzano. Vai que alguém se anima com as minhas histórias e resolve fazer workaway também, não?

A Caschina dei Finocchio Verde, como tantas outras fazendas, é um tanto isolada e não existe transporte público até lá. Isso não chega a ser um problema, porque em geral o anfitrião se dispõe a buscar o voluntário na estação de trem ou de ônibus mais próxima. No meu caso foi um verdadeiro pinga-pinga. Uma carona para chegar até a estação de trem em Colleferro; dali um trem para Roma; e de Roma outro até Torino; de Torino mais um outro para Ceva onde meu anfitrião foi me buscar para uma viagem de mais meia hora de carro. Ufa!

Chegando lá, minha primeira experiência foi com as ovelhas. Recebi um bastão de pastor e fui ajudar o Christian a recolhe-las no pasto. Estava me achando a própria pastora e quando me preparava para gritar “alê” (voz de comando para reunir as ovelhas), uma delas me olhou bem nos olhos e eu entendi o recado:  “- Fica quieta que você não é do ramo.”. Me recolhi a minha insignificante condição de espectadora e me limitei a observar quietinha.

Olha…vou te contar: as bichinhas comem e comem muito. Passam o dia no pasto degustando todo o capim que encontram e na volta para casa param no meio do caminho para saborear as “ghiandas” que se espalham pelo chão. Uma espécie de noz muito bonitinha, mas terrivelmente amarga. Somente ovelha e porco para gostar disso. Como eu sei? Provei né gente!? Eca!!!

 

Christian é o responsável pelo cuidado com as ovelhas e a fabricação do queijo.

Findo o lanchinho das moçoilas, hora de limpar o recinto, colocar feno novo (caso elas ainda queiram comer mais alguma coisa durante a noite), abastecer o bebedouros com água fresca e fazer a ordenha.

Manter a casa aquecida e garantir água quente nas torneiras ficava por conta dos painéis solares. Para os dias nublados tínhanos este belo francês que garantia o estoque de lenha.

Uma tarefa nada fácil. Ninguém ali sai derrubando árvore a torta e a direita para queimar na lareira. O respeito a natureza é absoluto. A lenha é recolhida de árvores caídas, troncos e galhos podados pelos diversos fazendeiros da região que jogam o excedente no meio do mato. É lá que a lenha é recolhida. 

Em uma fazenda, mesmo naquelas onde trabalha só a família, cada um tem suas tarefas definidas mas uma vez concluídas nada impede que se dê uma mãozinha ao outro. No fim todo mundo sabe fazer de tudo. Foi assim que eu e Isa acabamos pegando uma carona no trator do Julien para ajudar a recolher a lenha.

Trabalho pesado? Sim, mas muito divertido.

Começa que trator não tem amortecedor, ao menos no reboque e me fez lembrar de quando era criança e andava na traseira do jeep willys do meu querido tio Avelino.

Chegamos em um local onde havia muita, mas muita madeira mesmo. Nessa situação é como encontrar um tesouro. Foi bem nessa hora que tive a infeliz idéia de perguntar:

Não é perigoso encontrar uma cobra no meio de toda essa madeira? E Isa, muito tranquila, me respondeu que não. Era muito difícil aparecer uma cobra por ali. Eu já sentia um alívio no coração quando ela completou: – talvez um rato. Oi? Acho meu pavor ficou tão estampado na cara que ela começou a rir e disse:

– Calma! Você é uma gigante para o rato. Se tiver algum por aqui foge.

Dali em diante foi só nisso que consegui pensar: – Eu sou uma gigante; eu sou uma gigante; eu sou uma gigante…e pensava bem alto na esperança de que o rato ouvisse.

Acho que funcionou. Pelo menos não tive o desprazer de encontrar nenhum antipático roedor, o que me fez ficar muito agradecida ao Universo.

E agora deixo que as fotos contem o resto:

Grão de bico. O que a máquina não deu conta de fazer, fizemos nós em um processo artesanal. Primeiro se sacode a caixa para tirar o excesso de terra e depois se recolhe bolinha por bolinha de grão de bico. Ao final pesamos 13 kg. Yeeessss!

E com o grão de bico transformado em farinha, se pode preparar esse prato delicioso que se chama “farinata”. É feito com água, farinha de grão de bico e sal apenas. Essa foi preparada pelo Christian no forno a lenha e ele deu um toquizinho a mais cobrindo como cogumelos frescos, recém colhidos e salsinha. Delicioso é pouco para descrever o sabor. Simplesmente incrível!

Cogumelo Mazza Tamburi, comestível e delicioso mas é preciso conhecer bem. Alguns tipos bem parecidos são tóxicos.

Alcaparras, que eu só conhecia dos supermercados, vem dessa delicada planta. O que nós utilizamos na culinária são os brotos das flores.

        O que não foi colhido, virou flor! Lindas não?

Agora quem nunca ouviu falar do “ouro vermelho”? Isso mesmo…o açafrão. E quando se vai comprar fica muito claro porque é chamado de ouro vermelho, não? Também pudera, para conseguir 1 quilo de açafrão é preciso colher de 280 a 300.000 flores como as da foto abaixo. O açafrão nada mais é que os três pistilos desta bela florzinha.

Peras…hummmm! Dessa ávore colhi três enormes cestos. Comíamos como sobremesa ou no café da manhã, acompanhadas de nozes, pão e mel.

Tínhamos também a opção de figos roxos ou brancos. Eu não sei para vocês, mas para mim foi uma experiência incrível ir buscar o fruto no pé para o café da manhã.

Para garantir esse café da manhã hiper saudável, era preciso colher as nozes e cuidar das abelhas.

 

Essas nozes infelizmente o cachorros comeram. Colocamos para secar e esquecemos do lado de fora. No dia seguinte só haviam as cascas. E eu que nem sabia que cachorro comia nozes…boh!

 

Enfim são tantas coisas para mostrar; tantas coisas que vi, ouvi e aprendi, que um post não seria suficiente para contar tudo. Isso foi só uma pitadinha dos meus dias por lá.

Cheguei ali pouco antes do inverno, quando já era tempo de limpar a horta arrancando as plantas velhas e preparar a terra para receber novas sementes. Agora a terra deveria descansar para no momento certo ajudar as sementes a eclodirem recomeçando todo o ciclo.

 

 Vou me despedindo por aqui. E só para finalizar preciso dizer que entre as muitas coisas que aprendi, uma em especial foi extremamente importante: “desperdício”, isso é uma coisa que absolutamente não existe no campo. Quase tudo é reaproveitado e a quantidade de lixo produzido é mínima. Só para dar um exemplo, a palha que nós tiramos das espigas de milho e que para mim eram lixo, iriam ser transformadas em cestos e para fazer um bom acabamento a Isa foi atrás de um determinado tipo de capim, que nós na cidade, com certeza teríamos simplesmente arrancado.                                                                                      Assim é a vida no campo…apaixonante!

 

 

Um beijo estalado e uma abraço apertado. Arrivederci!

 

 

 

 

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