Com tantas coisas grandiosas em Roma, é difícil imaginar que alguém vá prestar atenção em algo tão simplório, se não souber do que se trata.
Na esquina das ruas Via dei Santi Quattro com a Via dei Querceti, bem pertinho do Coliseu, existe um antigo santuário que é oficialmente dedicado a Virgem Maria. E poderia ser mais um entre tantos outros que existem em Roma, não fosse pelo fato de fazer parte de uma história pra lá de intrigante e para a qual até hoje não se chegou a um consenso sobre sua veracidade.
E porque esse cantinho é tão interessante e controverso? Durante a idade média até mais ou menos o ano de 1.200 esse trecho fazia parte da Via Sacra realizada pela Corte Papal, e foi bem nessa esquina, que o improvável aconteceu. O Papa João VII (João Anglius), depois de sentir fortes dores teria dado à luz a uma criança(!!!).
….Pausa para mais (!!!!!!)….
Enfim, ninguém imaginava que o Papa João fosse na verdade a Papisa Joana! E se não fosse a gravidez ou as dores em uma hora imprópria, ninguém saberia se tratar de uma mulher. Uma das inúmeras mulheres que ao longo da história se disfaçaram de homem para poder estudar, lutar, ou simplesmente fugir das condições indignas e limitadoras que lhes eram impostas.
Era dona de uma inteligência acima da média e foram seus conhecimentos sobre os mais diversos assuntos e sua cultura, que a levaram a ser eleita Papa por unanimidade, mesmo que nunca tivesse tido essa pretensão.
Alguns cardeais, depois de superar o susto, tentaram contornar as coisas se ajoelhado e gritando: “milagre…milagre!” Sugerindo que por milagre um Papa tivesse dado à luz, mas parece que a população não comprou a idéia e a teriam linchado até a morte. Gosto mais da versão que diz que ela morreu de parto.
Obviamente a igreja nega tudo, alegando que não passa de uma invenção com o intuito de desmoralizar a Igreja de Roma. Alguma dúvida? A preocupação em negar a existência é tanta que a Corte de Roma decretou a proibição do nome dela na lista dos Papas, embora mencione todos os antipapas…hummmm
A história foi publicada pela primeira vez no século XIII, pelo frade dominicano Estevão de Bourbon, relatando o fato que havia sido espalhado pelos séculos que o precederam, porém sem provas concretas. Mas até aí, dá para imaginar que se algum dia existiu uma prova, certamente sumiram com ela, já que não havia nenhum interessse na divulgação do caso.
A escritora inglesa, Donna Woolfolk Cross, escreveu um romance espetacular intitulado “Papisa Joana”. Li o livro e é daqueles romances que te levam para dentro da história. Por conta disso, não foram poucas as vezes que estive parada naquela esquina tentando imaginar como tudo aconteceu.
Existem aqueles que acreditam que seja verdadeira e apresentam inúmeros motivos em defesa da história, como por exemplo, a mudança de trajeto da Via Sacra, que depois do ocorrido passou a ser feita pela rua lateral sem que nada justificasse a mudança; ou a “cadeira de parto” que também serviria para colocar os Papas depois de eleitos sentados e um sacerdote verificava se ali por baixo o Papa tinha….. hummm, como dizer!?! Verificar se o Papa era Papa ou Papisa, ecco!
Existem também os que acreditam não passar de uma lenda e apresentam o mesmo número de argumentos em oposição aos primeiros. Quem está certo? Acho que nunca saberemos.
A única certeza que se tem sobre este lugar é que sua existência gira em torno de 1.000 anos. E, que junto a parede do edifício, existe um afresco da Madona com o filho no colo e posteriormente, foram erguidas as paredes e encerradas com grades de ferro para proteger um dos mais antigos afrescos de Roma.
Eu escolhi acreditar que a história é verdadeira! Até porque, lenda ou verdade para mim pouco importa. O que vale mesmo é saber que em pleno século XIII, alguém teve a coragem de escrever sobre uma mulher que desafiou a “mesmice” para conseguir o que queria. Bravo Estevão! Brava Joana!
Beijo estalado e abraço apertado. Arrivederci!