Depois de mais de dois meses em quarentena, chegou a hora de sair e vi uma Roma muito diferente da que eu estou acostumada a ver, era uma Roma apenas para romanos, nascidos aqui ou de coração.
Precisei ir ao Vaticano e quem já esteve por lá sabe que o tamanho da fila para passar pelo controle antes de entrar na basílica é normalmente assustador. Nesse dia 28 de maio, não tinha ninguém, ou melhor, quase ninguém. Uma fila com cinco pessoas, que só era um pouco mais longa porque o chão estava marcado de modo que as pessoas mativessem distância segura umas das outras.
Foi um momento único poder visitá-la sem precisar disputar cada centímetro quadrado com os milhares de visitantes que transitam por ali todos os dias. Com a basílica vazia foi possível admirar cada detalhe, desde o dourado do teto, que parecia ainda mais brilhante, até o colorido dos mosaicos de mármore do chão.
São Pedro em respeito ao distanciamento social estava isolado por um cordão, abençoando de longe todos os que estivessem com o coração aberto para receber suas graças.
Foi estranho vê-lo assim. É comum ver um grande número de pessoas ao redor da estátua de Pedro aguardando a sua vez para passar a mão sobre seu pé direito e fazer uma prece, que segundo um antigo ritual, garante a remissão dos pecados ou a realização de um pedido especial. Quando isso começou ninguém sabe dizer ao certo. O fato é que o pé direito de Pedro já foi tão acariciado que nem se vê mais o contorno dos dedos.
Aliás, eu acho que o trava línguas que diz:” – O peito do pé do Pedro é preto; Pedro tem o peito do pé preto”, se deve a essa estátua feita em bronze escuro.
A Pietá de Michelângelo, sempre tão disputada, estava lá sozinha. Já fiz várias fotos dessa obra prima, mas foi sempre tendo que esperar uma eternidade em meio a um mar de pessoas até conseguir uma brecha para me aproximar.
Ontem não precisei esperar mais que dois minutos (contados no relógio), para que o único visitante que estava entre eu e ela, se afastasse e eu pudesse finalmente fazer uma foto mais ampla.
Enfim, foi um momento muito especial em que pude apreciar cada cantinho da basílica sem dificuldade e sem o costumeiro burburinho. Apesar disso, saí de lá sem o sentimento de euforia que seria natural pela oportunidade e só quando olhei a praça tão vazia, entendi o que se passava.
A maior beleza da Basílica de San Pietro está nas pessoas que ao entrar se encantam com a sua beleza e com suas obras de arte. O sentimento de gratidão daqueles que sonharam um dia estar ali, gera uma explosão de energia vibrante e positiva que torna tudo muito especial. Sem isso, ela só mais uma igreja bonita como tantas outras.
Pensando bem, além de “Cidade Eterna”, Roma poderia ostentar o título de “Cidade de todos os povos”, justo porque é nessa diversidade que está grande parte da sua beleza.
Beijo estalado e abraço apertado à todos. Arrivederci!
Um relato curioso onde sentimos cada vez mais a falta do calor humano.