É engraçado como uma conversa jogada fora durante um cafezinho pode mudar nossa opinião para sempre.
Por esses dias estive em Anagni, que particularmente gosto muito por toda a história que a envolve. Ando por suas ruas estreitas no centro histórico com os pés no presente e o pensamento no passado. Imaginar que as ruas por onde ando agora, há 700 anos eram invadidas pelo exército do Rei Felipe IV da França, para prender o Papa Bonifácio VIII me parece fantástico.
Não vou aqui entrar em detalhes sobre essa disputa de poder entre o Papa e o Rei porque a historia é longa, mas sugiro para aqueles curiosos como eu, que busquem na internet sobre “Lo Schiaffo di Anagni”, ou seja, a bofetada que Bonifácio recebeu no momento da sua prisão.
Já estive algumas vezes na cidade a passeio ou a trabalho e sempre aproveito para dar uma voltinha por ali, analisando melhor sua arquitetura e tentando desvendar alguma coisa que tenha deixado passar antes.
Dia desses, depois de uma bela caminhada, resolvi sentar para um café antes de fazer o caminho de volta. Não demorou muito para que alguém puxasse conversa e papo vai, papo vem, me perguntasse o que estava fazendo em Anagni. Disse que tinha ido a trabalho mas que agora estava aproveitando para apreciar a cidade.
Sem brincadeira, a criatura quase engasgou com o café que tinha começado a tomar.
– Apreciando a cidade!? O que tem para ver aqui? Perguntou e de pronto respondi:
– Caramba (descobri que os italianos adoram o nosso “caramba”), a história de Anagni é riquíssima. Tem a casa onde morou Bonifácio construída por volta de 1.300; o Palazzo Chigi que data de 1280, a Catedral, a Cripta de S. Magno com seus afrescos.
A gargalhada veio em seguida: -” Caríssima, casa velha tem em qualquer lugar. Anagni é uma cidade muito, muito feia”.
Discordei veementemente. Saquei meu celular e mostrei as fotos que tinha tirado.
Ele olhou as fotos com atenção e acredito que até tenha me dado um pouco de razão quando foi confrontado com os belos detalhes de cada lugar.
Terminamos nossos cafés e nos despedimos. Fiz o caminho de volta ainda pelo centro histórico, agora não mais com o pensamento no passado, mas com a atenção para aquilo que tinha ouvido. E não é que sou obrigada a reconhecer que aquele italiano tinha lá o seu tantinho de razão? Anagni está mesmo muito mal cuidada.
Mas enfim valeu pelo papo e o bom café. De todo modo, depois desse encontro acho que nós dois fomos embora com as idéias um pouco mudadas a respeito da cidade. Ele achando que Anagni tinha lá sua beleza; eu, sem conseguir enxergá-la mais tão bela.
Eh…a beleza realmente está nos olhos de quem a vê!
Texto maravilhoso!
Que bom que gostou. Fico feliz. Beijos