Queria contar para vocês como é o carnaval na Itália. Não aquele carnaval preparado para o turista mas o que acontece nas pequenas cidades; queria saber o que os italianos pensam a respeito.
Pergunta daqui; pergunta dali e num primeiro momento me pareceu que eles nem gostavam de carnaval.
Me enganei! São os italianos que eu conheço que não gostam. Buscando para além do meu mundinho descobri coisas muito interessantes sobre o carnaval italiano.
Começa que aqui não é feriado. – Nãaaaoo!? Sério, que não é feriado!? Pois é, não é. Comércio, escolas, orgãos públicos tudo funciona normalmente.
Mas vamos lá que quero contar para vocês o que achei de interessante ou curioso.
Do carnaval de Veneza creio que todo mundo, pelo menos uma vez na vida, já ouviu falar. É realmente grandioso andar por suas ruelas estreitas trombando a cada dez passos com alguém vestido a caráter. É como voltar no tempo e estar na Veneza do século XIX.
Mas confesso que por mais deslumbrante que seja, essas figuras mascaradas me causam um certo desconforto. Prefiro vê-las na Piazza de S. Marco e de preferência com muita gente em volta.
Eles não parecem aqueles manequins de loja quando estão com máscaras que cobrem todo o rosto?
E por falar em máscara, você sabia que cada tipo de máscara tem um nome? Vou citar algumas:
Bauta – Usada por homens, cobrem todo o rosto e tem a parte do queixo projetada para frente, permitindo que o utilizador fale, coma e beba normalmente sem precisar revelar sua identidade.
Moretta – De uso exclusivo das aristocratas, não era presa por fitas mas sim apertando um botão entre os dentes. Ou seja, as moçoilas não podiam falar nem comer ou a máscara caia.
Larva – Usada tanto por homens quanto por mulheres, cobre todo o rosto e ao contrário da “bauta” não permite que a pessoa coma ou beba sem revelar a identidade. E é bem essa que me assusta.
Pantalone – Inspirada pela comédia dell’Arte e usava mais como brincadeira do que com o propósito de ocultar a identidade. 
Columbia – Acho que uma das mais conhecidas. Usada por quem só quer fazer um charminho.
Arlequim – Também trazida da comédia dell’Arte sempre usada com roupas coloridas de joker.
Já na região da Lombardia, em Bagolino, o modo de comemorar o carnaval é muito particular e remonta a tradições do séc. XVI, com espetáculo de dança e pessoas mascaradas passeando pelas ruas.
Ao contrário de Veneza, onde as máscaras são requintadas, em Bagolino a brincadeira é usar máscaras que lembram bruxas, embora os outros tipos também sejam usados.
Um costume muito particular de Bagolino, é o de passar a mão na genitália masculina como votos de fertilidade.
Atenção!!! Apenas nos homens e claro que as mulheres podem comprimenta-los com seus votos de que sejam cada dia mais férteis, mas os homens não podem retribuir a gentileza, ou seja, nada de passar a mão nas senhoras.
Cento, uma cidade da Província de Ferrara, é considerada cidade irmã do Rio de Janeiro e já a alguns anos conta com a participação de sambistas cariocas.
Vamos combinar que tem que tirar o chapéu para essas meninas corajosas.
Nessa época do ano a temperatura da região gira em torno dos 8°. Penso que acaba sendo um bom motivo para não parar de sambar.
Os carros alegóricos também são uma atração para a população que conhece o carnaval de longa data. Uma tela de Guercino (Giovanni Francesco Barbieri) de 1615, retrata a folia em uma praça de Cento.
Claro que Roma não ficaria de fora. E por aqui as comemorações acontecem por toda semana gorda que vai do dia 08 (quinta feira) até dia 13 (terça feira) quando a folia se encerra e dá lugar ao início da quaresma.
Tem diversão para todos os gostos e idades desde animação infantil, passando por desfiles a cavalo até aos bailes de máscaras por toda cidade.
Os pontos turísticos mais conhecidos, como Piazza Navona, Piazza di Spagna, Piazza del Popolo e Via del Corso são invadidos por clown, Pierrot e Colombinas, além de personagens mais recentes que tenham estado em evidência no ano anterior, incluindo os políticos.
Em Ivrea, Torino, é famoso o histórico carnaval onde ocorre a “Batalha das Laranjas” relembrando uma revolta popular que ocorreu em certa época contra o barão que domina a região e explorava o povo. Depois de três dias de desfile, o carro representando o barão entra na cidade alvejando a população com laranjas.
A batalha é feroz, mas não se preocupe porque é possível assistir tudo sem ser atingido. Basta que você use um gorro vermelho daqueles que parecem uma meia comprida e fica entendido que você aderiu a revolta.
Fico pensando que a cidade deve ficar com um cheiro maravilhoso com toda essa laranja.
Na Sardegna, em Mamoiada, o modo de se fantasiar é muito peculiar e tem um aspecto meio ritualistico, diferente de qualquer outro lugar.
Alguns se vestem como pastores e outros como ovelhas usando uma máscara de madeira pintada de preto e com vários sinos amarrados no corpo. O costume é antigo e ninguém sabe dizer qual a sua origem.
E assim, por toda a Itália, as pessoas se divertem e a brincadeira pode variar de uma região para outra, mas nem por isso a alegria é menor.
E viva a Itália, ciao! E até a próxima.