Oro dei Quiriti…um lugar inesquecível – parte II

Quando voltei em janeiro, a princípio não havia nenhum outro voluntário na casa, mas logo depois chegou uma garota australiana, Sandy. Um encanto de pessoa. Ainda que ela não falasse muito de italiano ou português, e ainda que eu não falasse quase nada de inglês, conseguíamos nos comunicar perfeitamente bem, algumas vezes com a prestimosa ajuda do Google tradutor. Sabe aquelas pessoas que vão entrando no coração da gente sem pedir licença e se encaixam tão bem nele que você nem pensa em tirá-las de lá? Pois foi assim que aconteceu.

Eu adoro o trabalho no campo, em boa companhia fica muito mais fácil e divertido. Uma das coisas que mais me  encantam é a diversidade de tarefas. Monotonia por aqui simplesmente não existe. Diferente da maioria das pessoas que trabalham na cidade, executando sempre as mesmas coisas, no campo cada mês propõe uma atividade diferente. Da metade de janeiro em diante nosso trabalho foi ajudar Pompilio na poda dos pés de kiwi. Um trabalho que precisava ser feito antes que entrasse a primavera.

Embora parecesse simples, na verdade não era. Vocês sabiam que o kiwi tem árvore macho e fêmea? Eu não fazia a menor idéia. E é preciso conhecer bem para saber o que e onde podar. Foi gostoso e de quebra fizemos grandes exercícios de alongamento. A promessa era de que cresceriamos de 2 a 3 cm até o final da poda. Será? Preciso conferir.

Sente o olhar do Pompilio: “Por favor senhora, mais trabalho e menos fotos”.

Foram vários dias de trabalho e viemos embora sem terminar tudo. Faltou uma pequena área para podar e depois de tudo pronto o trator deveria passar por ali triturando todos os galhos que foram jogados no chão.

E por falar em trator, no post anterior coloquei uma foto fazendo pose de tratorista mas desta vez foi para valer. Fui a 20km por hora com medo de causar algum dano, mas mesmo assim estava me sentindo poderosa…rsrs.

A Oro dei Quiriti é um pouco diferente do padrão normal de uma fazenda, na verdade nem é exatamente uma. A casa fica na cidade no bairro de Corese Terra e eles possuem vários terrenos espalhados pela região, cada um com um tipo de plantação predominante. Para que eu e Sandy pudéssemos pilotar o trator sem grandes riscos, Pompilio nos levou ao campo das oliveiras. Gente é um lugar muito, muito especial.

Bem afastado do centro urbano, o cheiro do mato, o silêncio e a paz que se encontra ali faz a gente ter vontade de ficar ali quietinho só sentindo a natureza. Eu fiquei apaixonada.

Como ali uma parte dos terrenos vem sendo passado de uma geraçao a outra, perguntei se aquelas oliveiras teriam sido plantadas pelo pai ou avô do Pompilio e para minha enorme supresa a resposta foi que não porque aquelas oliveiras tinham mais ou menos 1000 anos. Uau 1.000 anos? Claro que minha cabeça já começou a fantasiar em cima do tanto de situações que aquelas àrvores já teriam assistido. Consegue pensar nisso? É incrível!

Além da poda que foi o trabalho principal, desta vez também foi preciso ajudar um pouco mais com os trabalhos domésticos do dia a dia. Rosa que em geral coordena tudo, da casa ao campo, precisou passar por uma cirurgia de catarata e deveria fazer repouso absoluto. Notem que eu disse “deveria”. Díficil manter aquela garota quieta e olha que ela se esforçou, mas foi sofrido.

Rosa cozinha divinamente, eu ao contrário, não tenho toda essa afinidade com as panelas. Ainda assim, diante da situação preparei algumas refeições e posso  dizer que dei àqueles italianos a oportunidade de queimarem os seus carmas (risos, muitos risos).

Acho que nem preciso falar muito mais se vocês olharem a carinha de choro do meu caro anfitrião. Já Rosa, que sendo mulher é mais sensível, nunca reclamava e quando eu perguntava se tinha ficado bom sempre dizia: “Sim, só um pouquinho diferente, mas está bom.” Mentiiiira! Mesmo assim sou grata a ela.

Vai Pompilio, coragem!

Gente sem brincadeira, cozinhar para italiano é só para quem entende do assunto ou é muito atrevido. Em geral, todos eles cozinham muito bem e a nossa comida é bastante diferente, começando pelo fato de que eu adoro cebola e alho e eles jamais misturam os dois. Acabou que Rosa nem fez o repouso de modo cem por cento  correto, porque sempre ficava por perto enquanto eu cozinhava e algumas vezes acabou por meter a mão na massa (nesse caso literalmente).

Para sorte e alegria de todos a Sandy é uma doceira profissional e cozinha muitíssimo bem, o que acabou por salvar o pobre Pompilio a doce Rosa da minha comida. Assim, fiquei encarregada de limpar a cozinha depois das refeições. Era mais seguro para todos.

Enfim o que vale mesmo é que mais uma vez encontrei pessoas incríveis, de altíssimo astral e cada uma delas deixou em mim uma marca especial. Aprendi coisas novas (adoro isso!) e vivi experiências maravilhosas que vão estar para sempre entre as minhas melhores lembranças.

Põr do sol em Corese Terra. Fazer parte de um cenário desses é impagável.
Dando uma voltinha nas redondezas.
Resto de uma casa da época dos romanos, bem ao lado da plantação de kiwi. Aqui era provavelmente o local onde armazenavam os alimentos e conservas.
Sandy em seu momento tratorista.
Repara na qualidade da foto não pessoal. Estava um frio de lascar e a gente adicionou grapa (cachaça) no chocolate quente. Esquentou o corpo, derrubou a foto (risos).

 

E assim vou me despedindo de vocês, aproveitando para confessar que escrever este post e remexer nessas fotos me fez sentir uma saudade danada.

Beijo estalado e abraço apertado à todos. Arrivederci!

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